BREVE HISTÓRICO:
No barraco da Constância tem! – ou Barracons – é um grupo residente em Fortaleza/Ceará que, desde 2012, se dedica à produção artística coletiva de espetáculos, performances, audiovisuais, instalações etc. O grupo conta com 5 espetáculos em repertório, que são constantemente apresentados em temporadas e eventos. Entre os espaços onde o grupo passou, destacam-se: Verbo (SP/MA/CE), Bienal Internacional de Dança do Ceará (CE), Trema! Festival (PE), Salão de Abril (CE), Galeria do Banco Econômico (ANG), Itaú Cultural (SP), entre outros. O grupo também possui colaborações com As 10Graças de Palhaçaria (CE), Coletivo Farol Novo (CE), Dinho Araújo (MA), Elilson (PE/SP), Érica Zíngano (CE), Grupo Lindo (CE), Isadora Ravena (CE), Marrevolto Filmes (CE), Ruth Aragão (CE), Samantha Moreira (SP) e Teatro Máquina (CE). Entre as premiações recebidas, destacam-se: Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna (BRA), em 2015 e 2024; Artlink e Südkulturfonds (SUI) em 2023; Sesc Pulsar (RJ), em 2023.
PESQUISA DE LINGUAGEM
O coletivo No barraco da Constância tem!, desde a sua fundação em 2012, trabalha no cultivo de uma pesquisa de linguagem que se ancora em pelo menos 3 eixos de atuação:
1. O primeiro deles diz respeito ao desempenho de um diálogo transversal entre o teatro com outras linguagens. Formado por artistas com formação em teatro, mas que também acumulam conhecimento formativo e atuações em outros campos de conhecimento, o Barraco se manifesta como um coletivo de criações plurais. No campo da arte cênica, elabora composições com ferramentas próprias desse suporte, mas em profunda interseção com uma diversidade de ferramentas apreendidas de linguagens distintas. Sendo assim, o coletivo possui no seu modo de fazer um caráter mais híbrido, produzindo um teatro que se aproxima da dança, da performance, da fotografia, do vídeo, da literatura, da instalação, da intervenção urbana e de outras plataformas. Esse caráter interdisciplinar produz, na cena, uma vastidão de multiplicidades e possíveis, contribuindo para o desenvolvimento de um teatro que se fortalece na comunhão com outros modos de fazer; além de inserir o coletivo na produção, fora de cena, de outras criações artísticas em vídeo, fotografia, performance etc. que se alimentam do teatro para existir.
2. O segundo eixo da pesquisa de linguagem em que o grupo atua diz respeito à prática da criação colaborativa e da direção coletiva. Fortalecido pelo desenvolvimento desse diálogo atravessador entre o teatro e demais linguagens, e entendendo que não somente as linguagens podem estabelecer um fluxo transitório entre elas, o Barraco também realiza uma corrente de rotatividade entre os seus integrantes. Seus membros atuam em distintas funções na criação de cada trabalho; ora como intérpretes, ora como diretores, ora como dramaturgos, ora como produtores ou mesmo atuando concomitantemente em mais de uma função por espetáculo. Esse fluxo de distribuição de tarefas garante o nivelamento das hierarquias dentro do coletivo e possibilita o desenvolvimento dos seus integrantes nas suas áreas de maior interesse em cada processo, contribuindo para uma maior pluralidade de discursos presentes em cada espetáculo. A partir desse modo de fazer colaborativo, o Barraco também acabou por desenvolver metodologias de direção coletiva, onde os intérpretes também realizam a encenação do trabalho, no embate e na negociação de desejos. Além da presença desse modo de fazer colaborativo e coletivo nas suas criações artísticas, esse mesmo modo rotativo se dá na maneira como o grupo é gerido, difundindo um jeito próprio de estar no mundo.
3. Por último, o terceiro eixo diz respeito à atuação do coletivo no campo da arte contemporânea. Misturando linguagens, plataformas, suportes e realizando uma redistribuição constante de funções, o coletivo realiza, no seu fazer, trabalhos que inquietam os modos como são estabelecidos os regimes de percepção a qual estamos inseridos no tempo presente, remexendo questões que se friccionam com autoria, geopolítica, gênero, linguística etc. e assuntos diversos relacionados à história, política, religião, antropologia, astronomia, o próprio teatro e também a arte na sua contemporaneidade. De modo a se retroalimentar com todas essas questões e assuntos próprios do agora, entre outros, e reorganizando concepções de mundo ocidentais e hegemônicas, o Barraco defende também o conceito de invenção como norteador dos seus processos de criação, perspectivando que não há um modo certo e engessado de fazer teatro, mas diversas maneiras de se inventar um teatro possível, desenvolvendo uma poética própria, coletiva, transversa; policêmica, intertextual, plural, polifônica e hiperconectada; nascida do encontro entre os seus membros e demais colaboradores com os diversos mundos que existem e que estão por vir.